segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Código de segurança

 
CÓDIGO DE SEGURANÇA
 
 
   Para tornar a escalada cada vez mais segura e para que possamos usufruir sempre dos ambientes naturais de forma tranquila, alguns códigos devem ser seguidos, visando primeiramente a segurança dos escaladores e claro o bom convívio com outros escaladores e moradores locais, além de zelar sempre pela fauna, flora e propriedades privadas e públicas por onde transitamos para chegarmos as montanhas.
 
 
1 - Usar o capacete sempre;
 
Tanto para o guia, quanto para os participantes o uso de capacete é fundamental, tanto para previnir quedas quanto a queda de pedras.
 
 
2 - Utilizar sempre equipamentos em boas condições;
 
Atualmente a oferta de equipamentos está cada vez maior, portanto, não existem mais desculpas para se utilizar equipamentos velhos e sem condições de uso. Mesmo quando tratamos de equipamentos de escalada aquela máxima que o barato sai caro continua valendo, portanto, quando um equipamento for muito barato o melhor é desconfiar, lembre-se que recentemente divulgaram que alguns equipamentos da Petzl estavam sendo falsificados na China.
 
 
3 - Revisar os seus nós, certificar-se quer todos estejam devidamente encordados. Verificar fivelas, a posição correta do Baudrier assim como a dos participantes da cordada;
 
 Nunca é demais conferir o encordamento de seus participantes e pedir que os mesmos façam isso com o seu encordamento. No caso de clientes ou principiantes a atenção deve ser sempre redobrada. Quanto aos baudriers os mesmos devem sofrer periodicamente uma inspeção para se atestar a qualidade dos mesmos.
 
 
4 - Dar e receber segurança de forma adequada;
 
Muitos acidentes acontecem por simples falta de atenção do assegurador, principalmente, nos dias de hoje onde o telefone celular está sempre as mãos, perder a atenção neste momento é muito fácil, portanto na hora em que estiver dando segurança, tenha atenção e lembre-se que alguém está confiando em sua segurança e pode precisar dela a qualquer momento e nem sempre é possível avisar antes de uma queda.
 
 
5 - Montar paradas seguras utilizando sempre mosquetões de trava;
 
 Tenha sempre mosquetões com trava para utilizar nas paradas. Lembre-se da equalização em "V" e do Triângulo da Morte.
 
6 - Utilizar solteiras com mosquetão de trava;
 
As solteiras ou ancoragens devem sempre ser usadas com mosquetões de trava.
 
7 - No rapel, utilizar nós nas pontas para impedir a passagem do final da corda pelo aparelho e utilizar nó blocante como sistema de backup;
 
 
Faça nós independentes em cada ponta da corda e lembre-se que este pequeno detalhe pode te salvar. Principalmente em descidas onde a inclinação da montanha seja muito grande o uso de um nó como backup é muito importante, pois, te dará grande mobilidade, principalmente em rapeis em diagonais.
 
 
8 - Utilizar mosquetões de trava no ponto mais alto quando escalar em "top rope";
 
Além de utlizar o mosquetão de trava, nunca tenha sua corda passando dentro de apenas um mosquetão, tenha sempre um backup do sistema.
 
9 - Utilizar somete o oito duplo e o lais de guia duplo para o encordamento:
 
Particularmente sempre utilizei o oito para encordamento e com certeza é o nó mais seguro para esta finalidade, ainda que muitos escaladores, principalmente esportivos gostem de usar o lais de guia duplo pela facilidade com que ele é desfeito mesmo depois de várias quedas.
 
10 - Quando estiver escalando em "top rope" usar os nós de encordamento oito duplo ou lais de guia duplo diretamente ao baudrier ou através de dois mosquetões com portas opostas. Nunca utilizando apenas 1 mosquetão, mesmo que seja de trava;
 
 
Volto a dizer que sempre utilizei o oito, porém, muitos escaladores preferem o uso do lais de guia.
 
 
11 - Estabelecer os códigos de comunicação antes do início da escalada e assegurar-se do seu correto entendimento;
 
Se existe algo que pode fazer toda diferença na escalada é a comunicação, quando se escala em grandes vias e grandes montanhas, em diversas situações você não conseguirá manter contato visual, tão pouco conversar, para isso é fundamental que antes da escalada sejam estabelecidos alguns códigos onde de acordo com um som ou dois puxões na corda aja de determinada maneira, assim como uma única palavra dar a entender que é para soltar a segurança ou começar a escalar.
 
 
12 - Levar além dos equipamentos necessários para escalada os seguintes equipamentos: No mínimo 2 ou 3 cordeletes de tamanho adequado para fazerem um prussick e um cordelete de no mínimo 2 metros de elo. Estojo Primeiros Socorros (Agulha, atadura pequena e grande, esparadrapo, ficha para anotar parâmetros, lápis, lista de telefones de emergência, luvas de procedimentos, manta térmica, pinça, sabão de coco, sal e açucar);
 
 
Dois cordeletes em seu baudrier deveria ser um item obrigatório, pois, eles podem fazer toda a diferença numa situação extrema na escalada, principalmente após uma queda sua ou de seu companheiro. Quanto ao estojo de primeiros socorros não há dúvidas de sua necessidade princpalmente em um ambiente de montanha onde estamos distantes de tudo.



Este código de segurança foi baseado no código da Aguiperj e deve servir de base para qualquer praticante da escalada em rocha, seja em boulders ou em montanhas. Os comentários são pessoais e é um resumo do que penso sobre cada tópico
 
 

Código de ética

                  

CÓDIGO DE ÉTICA



         Para tornar a escalada cada vez mais segura e para que possamos usufruir sempre dos ambientes naturais de forma tranquila, alguns códigos devem ser seguidos, visando primeiramente a segurança dos escaladores e claro o bom convívio com outros escaladores e moradores locais, além de zelar sempre pela fauna, flora e propriedades privadas e públicas por onde transitamos para chegarmos as montanhas.

 
 
1 - Não cavar agarras;
 
Mesmo que em algumas regiões exista essa tendência, evitemos isto, pois, além de marcarmos para sempre a rocha, não há como voltar atrás. Se estiver em uma via e não tiver como mandar o lance em livre, não cave uma agarra, coloque um grampo e mande o lance em artificial, ou se dominar as técnicas, faça um furo de cliff.
 
 
2 - Não colocar agarras artificiais em rochas;
 
Além de não ser estético, irá totalmente contra a tentativa de manter a escalada o mais limpa possível. Existem centenas de locais ainda inexplorados onde podem ser conquistadas vias sem a necessidade do uso deste artifício.
 
 
3 - Respeitar as fendas com possibilidade de proteção através de equipamentos móveis perfurando a rocha somente quando necessário;
 
 Nos dias de hoje adquirir equipamentos móveis é algo bem fácil, portanto, a falta de equipamentos não pode mais ser usada como desculpas para tais atitudes.
 
 
4 - Respeitar a vez de qualquer escalador que tenha chegado primeiro na via de escalada, ultrapassando somente com a permissão da equipe que chegou primeiro;
 
Educação não vale apenas para a base de uma via, acho que seja na trilha ou em qualquer outro ambiente, deve-se respeitar as outras pessoas. Se a sua cordada é mais rápida, seja educado e peça por favor para passar a frente da outra equipe. Um bom dialógo sempre é bem-vindo.
 
 
5 - Optar pela forma de descida que seja menos impactante ao ambiente;
 
Nem sempre esta forma de descida será por uma trilha, pode ser que a descida pela própria via seja menos impactante do que o uso de uma trilha.
 
 
6 - Respeitar a população das áreas de escalada durante as visitas identificando-se antes de entrar em propriedades;
 
Um simples bom dia, por favor ou com licença poderá evitar muitos problemas não só para você, mas para qualquer escalador que visite o local depois de você.  Mesmo sabendo que o acesso a montanha é um direito que temos, vale a pena, perder dois ou três minutos de conversa com o proprietário da terra e pedir-lhe gentilmente o direito de ir e vir em sua propriedade.

 
7 - Praticar e divulgar as técnicas de escalada de mínimo impacto;

Fundamental mantermos os locais de escaladas da mesma forma que os encontramos e mais do que isso devemos difundir essa ideia sempre, não só para escaladores, mas para qualquer visitante destes locais.
 

8 - Não molestar, capturar, alimentar a fauna encontrada nos locais de escalada;

Acho que neste caso o maior problema é quanto a alimentação dos animais, muitos podem achar bonitinho está prática, mas ela é altamente prejudicial aos animais, portanto, não os alimente. Molestar e capturar é algo que acreditamos que nenhum escalador fará.
 


Este código de ética foi retirado da Aguiperj e deve servir de base para qualquer praticante da escalada em rocha, seja em boulders ou em montanhas. Os comentários são pessoais e é um resumo do que penso sobre cada tópico.




quinta-feira, 6 de junho de 2013

Uma marreta que cai!


VIA UPÁ LÁ LPA

UMA MARRETA QUE CAI!


Mais de 23 anos se passaram desde minha primeira escalada a Pedra do Cão Sentado e hoje quando olho para trás vejo quantas vezes contei com a sorte, vejo quantas vezes o perigo esteve bem próximo de se tornar um grave acidente e até mesmo um acidente fatal. Uma das vezes em que tenho certeza que tudo poderia ter dado muito errado, foi em uma das investidas que participei durante a conquista da Via Upá Lá Lá na Pedra da Catarina Mãe, neste dia estávamos em 3, além de mim, a dupla Joel Novo e Leandro Gama “Japão”. Está via já estava começada havia algum tempo e a cada nova investida se mostrava mais desafiadora. Depois de retomada a conquista pela dupla Joel e Japão está era a segunda vez que eles estavam investindo na via, chegamos ao ultimo grampo do primeiro artificial da via, Joel saiu para conquistar o lance seguinte enquanto eu e Japão ficamos no grampo de parada. Joel havia subido com o equipamento de conquista, entre eles uma marreta com 1 kg, após costurar 2 grampos no segundo artificial, ele começou a furar para fixar um novo grampo,  alguns minutos se passaram até que escutamos um grito: “Marretaaaaa”, instintivamente nos protegemos, eu sem olhar para cima apenas protegi minha cabeça com os braços e em menos de 3 segundos após o grito de Joel sinto uma forte pancada em meu ombro esquerdo, sorte ou azar,  depende muito do ponto de vista. Nesta época ainda não usávamos capacetes, então se a marreta tivesse passado 20 cm mais a direita e eu não tivesse sido atingido eu diria que tive muito azar, mas se ela tivesse passado 20 cm mais a esquerda e acertado minha cabeça eu diria que tive sorte, muita sorte em ter sido atingido apenas no ombro, o que me custou muita dor nos dias seguintes. Na hora resolvemos rappelar, o que também não foi tão fácil sem conseguir mexer um dos braços. Pensando hoje fico imaginando o que teria acontecido se ao invés de me proteger eu tivesse olhado para cima para ver o que acontecia, provavelmente está marreta teria acertado em cheio meu rosto. Felizmente não houve sequelas, apenas um grande susto.

terça-feira, 4 de junho de 2013

A Cara da Morte 3


O DIA EM QUE VI A CARA DA MORTE
(PELA TERCEIRA VEZ)
 

 

Acidentes de Bike. Apesar de já ter sofrido 2 graves acidentes de bicicleta, a primeira vez em 1986 quando caí de bike e quebrei alguns de meus dentes e em julho 1996 quando resolvi da noite para o dia fazer uma viagem de bike até Rio das Ostras e fui “atropelado” por um cachorro que entrou na roda dianteira de minha bike poucos quilômetros antes de lumiar. Este segundo acidente me rendeu 2 pinos de platina no pé direito e 4 meses de recuperação e muita fisioterapia. Além de cicatrizes no rosto e mão que tenho até os dias de hoje.



André Rodrigues horas depois de seu acidente de bike em 1996,
4 meses de recuperação e dois pinos no pé direito.
 
Mesmo com esses dois graves acidentes nunca os encarei como momentos em que tenha visto a morte tão de perto quanto o que aconteceu em 27 de dezembro de 1999 quando eu tentava escalar o Monte Aconcágua.

 
Dias antes.  Já estava na montanha haviam quase duas semanas, já estava bem aclimatado  e dias antes havia chegado há mais de 6100 metros de altitude em minha primeira tentativa de chegar ao cume do Aconcágua nesta temporada, mas devido aos fortíssimos ventos que me impediam até de respirar direito, fui obrigado a desistir da tentativa e retornar ao Campo de Nido de Condores, ponto de onde havia começado meu ataque ao cume. Nesta primeira tentativa eu estava usando a barraca de dois escaladores canadenses que havia conhecido ainda na entrada do parque e que juntos fizemos toda a aclimatação, porém, como eles tinham pouco tempo decidiram ir embora e eu claro continuei na montanha, mas, como eu não tinha uma barraca adequada para os fortes ventos dos campos superiores decidi permanecer no Campo Base de Plaza de Mulas e depois de 3 dias descansando resolvi atacar o cume desde Plaza em um único dia.

27 de dezembro de 1999 (01h da madrugada). Acordo neste dia realmente disposto a chegar aos 6.959 metros de altitude do Monte Aconcágua, mas, eu estava há pouco mais de 4.400 metros de altitude, ou seja, tinha que vencer um desnível de 2.500 metros em um único dia e retornar. Preparei meu equipamento, minha mochila de 70 litros com um saco de dormir -5ºC, dentro dele uma garrafa de água para não congelar, um cantil térmico, alguns alimentos, roupa extra, pilhas extras, câmera fotográfica e no final tinha uma mochila pesando algo em torno dos seus 12kg. Após um lanche e já por volta de 2 horas da madrugada deixei minha barraca em direção ao cume, neste momento eu assumia um grande risco, pois,  não havia ninguém naquele acampamento que sabia o que eu estava fazendo, ou seja, eu estava totalmente sozinho na montanha. Mesmo essa parte da trilha pode ser perigosa, mas, sem problemas fui subindo lentamente em direção ao Campo Canadá que está há mais de 4.800 metros de altitude, passei direto por Canadá e continuei em direção ao acampamento de Cambio de Pendientes há 5.200 metros. Neste local já com o dia amanhecendo eu sabia que já estava atrasado para o ataque ao cume, pois, na verdade eu precisa estar há seis mil metros pelo menos. Tudo bem descansei, recuperei o fôlego e em mais uma escolha perigosa resolvi subir direto pelo Gran Acarreo, ou seja, eu não passaria pelos acampamentos de Nido de Condores e Berlim e mais uma vez estaria escolhendo o maior risco de todos, estar totalmente sozinho em uma montanha da dimensão do Aconcágua sem que ninguém soubesse o que eu estava fazendo ou se quer onde eu estava. A princípio a escolha do Gran Acarreo me pareceu uma solução muito boa para economizar tempo afinal eu iria direto até a grande travessia, era linha reta, não havia motivos para ter nada de errado. Aos poucos fui ganhando altitude e em pouco tempo já havia ultrapassado Nido de Condores e podia ver o acampamento e todas suas barracas ficando para trás, uma sensação boa, uma sensação de conquista, aos pouco já imaginava que estava me aproximando de Berlim e pelo ganho de altitude com certeza em pouco tempo também ultrapassei este acampamento. Neste momento começo a observar uma outra dificuldade a inclinação do Gran Acarreo começa a aumentar abruptamente e cada passo se torna mais e mais difícil e sinceramente o mais correto seria ter descido, mas, a minha vontade de chegar ao cume era muito maior e ele estava cada vez mais próximo, eu quase podia tocar na Canaleta final do Aconcágua, o que fazer? Continuei montanha acima, agora com neve resolvi colocar os grampos nas botas, parei para um descanso e pude observar Nido de Condores muito abaixo de mim, calculava estar há mais de 6.300 metros de altitude, um ganho considerável, mas agora o caminho que eu havia escolhido se tornará cada vez mais inclinado e cada vez pior para continuar a subida. Lembro-me que cada vez a travessia estava mais próxima de mim, porém, neste mesmo instante eu percebi que seria impossível chegar até ela por onde eu estava, a inclinação já era muito e para cada passo adiante eu voltava outro, era extremamente cansativo continuar brigando com todos aqueles pequenos blocos de pedras soltos naquela pendente da montanha. Mais uma vez tomei outra decisão que poderia ter me custado a vida, pois, ao invés de descer, resolvi fazer uma arriscada travessia por um bloco de pedra sem se quer saber onde ela chegaria, apenas usei a intuição imaginando que indo para minha esquerda eu sairia exatamente na trilha normal do Aconcágua. Mais um vez um grave erro que poderia ter tido um sério preço. Ainda com os grampos nos pés e com bastões nas mãos comecei a travessia por um gigantesco pilar com quase 100 metros de altura, para meu desespero quase tudo em que eu segurava se desprendia, ou seja, todo o Pilar era formado por diversos blocos de pedra soltos, aos poucos fui ganhando mais altura e me distanciando do Gran Acarreo sem saber onde iria chegar, a certo momento tendo que parar e controlar minha respiração para conseguir continuar, já me negava a olhar para baixo e ver a que altura eu estava e o quanto eu cairia caso eu me segurasse no lugar errado. Respirei, me concentrei e continuei por esse caminho que poderia me levar a qualquer lugar, eu não tinha a menor ideia de onde seria. Subindo aos poucos, devagar e com toda atenção finalmente rodeei todo o pilar e cheguei ao Refúgio Independência há quase 6.400 metros de altitude, mas antes de chegar a trilha normal ainda precisei fazer mais uma passagem delicada que agora parecia fácil. Vencido o ultimo obstáculo, havia chegado ao Refúgio parcialmente destruído de independência, dentro um marco com o nome de todos os soldados que haviam morrido na guerra das Malvinas em 1982. Sem muito tempo a perder, descansei, me hidratei e continuei minha subida ao cume, já era tarde e as chances que eu tinha de fazer cume se acabaram por volta dos 6.500 metros quando já não havia mais ninguém subindo a montanha e em meu relógio já marcavam mais de 16 horas, eu ainda tinha algumas horas até o cume e resolvi retornar para Plaza de Mulas, foi uma grande caminhada de descida e só cheguei a minha barraca por volta das 22 horas, exausto, deitei e dormi.
 
 
 
Cambio de Pendientes e um antigo refúgio
destruído vistos do Gran Acarreo.

 
 
 Antes de iniciar a perigosa travessia, uma pausa
para o descanso e quem sabe para ultima foto.

 
 
Visão parcial do grande pilar que tive que contornar, sua
rocha quebradiça se transformou num grande desafio.


 
Do ponto onde iniciei a travessia era possível
ver a parte final da escalada ao Aconcágua.

 

Dias seguintes. Muitas emoções se seguiram nos dias seguintes a este episódio, eu fiz uma nova tentativa de cume no dia 29 sem sucesso, cheguei a 6.700 metros quando uma tempestade se aproximou da montanha. Foi somente no dia 07 de janeiro de 2000 que eu finalmente consegui chegar aos 6.959 metros de altitude do Monte Aconcágua, mas toda essa aventura deixo para outra oportunidade.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

1 Montanha e 2 Acidentes


UMA MONTANHA E DOIS ACIDENTES

A história de 2 graves acidentes em 1990 


           Pico das Duas Pedras. Ainda do centro da cidade é possível ver o cume das Duas Pedras. Com seus mais de 1400 metros de altitude é uma imponente montanha e seu cume é acessado por uma escalaminhada, relativamente fácil tem muitos lances variando entre o 1º e o 2º grau, normalmente é escalado sem nenhum equipamento, pois, não é exposta e tem muitos gravatás e grandes moitas que segurariam um eventual escorregão. Conforme se pode observar na foto abaixo o caminho segue em direção a crista da montanha, até se chegar a um grande teto, onde existem duas opções de subida, a direita por um costão de 2º grau ou pela esquerda por um trepa-mato. Mais acima estes dois caminhos se reencontram e seguem por uma trilha até o cume da pedra principal desta montanha.


Pico das Duas Pedras e o traçado usado para a escalaminhada.
Esta visão é do bairro Córrego D'Antas.


             Equívoco. Muitos friburguenses, mesmo os escaladores acreditam que Duas Pedras se deve a duas montanhas diferentes, mas, isso é apenas um equívoco. O Pico das Duas Pedras é uma montanha e a Pedra da Cascata onde foi registrada uma das primeiras escaladas em Nova Friburgo é outra montanha. Apesar de serem vistas do centro da cidade, ambas são acessadas pelo bairro do Córrego D’Antas na estrada RJ-130 (Nova Friburgo x Teresópolis).

30 de setembro de 1990. Um grampo que se solta. Não era a minha primeira escalada ao Pico das Duas Pedras, na verdade nesta época frequentávamos bastante esta montanha, além da caminhada ser incrível, a cidade ainda não tinha vias de escaladas e também quase não tínhamos equipamentos, portanto precisávamos optar por caminhadas deste tipo. Neste dia em mais uma caminhada pelo Centro Excursionista Friburguense, tínhamos um grupo formado por sócios e convidados. O guia era meu primo Paulo Braga Junior, além, dele participavam Leandro Gama “Japão”, Wandersom “Guga” e Gustavo. Como sempre nos encontramos no Centro de Turismo, ponto tradicional de encontro do CEF e fomos até a rodoviária urbana onde pegamos o ônibus em direção a entrada da trilha. Após poucos metros em uma pequena mata, a caminhada passa a ser feita sobre a rocha, inicialmente sem inclinação, mas com o ganho de altitude também aumenta a inclinação. Quase toda a caminhada pode ser feita bem próxima as grandes moitas de mato o que minimiza qualquer risco de queda, com a rocha seca sempre aproveitamos para arriscar um pouco mais e subimos por locais mais expostos um pouco. Como nossa ideia era fazer rappel nas pedras do cume, tínhamos cordas e alguns poucos equipamentos, o que é bem útil nesta caminhada em casa de chuva. Após duas horas de caminhada tranquilas chegamos ao cume da pedra maior, com um visual incrível da cidade e região descansamos e curtimos o contato com a natureza. Nesta época tínhamos muita vontade em praticar o esporte e poucos equipamentos aliados a pouca experiência e quase nenhuma noção de segurança, esta foi uma época em que contamos muito com a sorte e por incrível que pareça ela esteve a nosso lado quase sempre. Bem, após uma pausa, um lanche resolvemos começar a “brincar” no rappel da pedra maior, fixamos as cordas nos antigos pontos de fixação do antigo cruzeiro que existia neste cume. Um a um fomos descendo, sempre de forma precária, não tínhamos Baudrier (cadeirinha), então improvisávamos com uma fita tubular, não tínhamos equipamento de rappel, então descíamos com um “Yosemite” (sei que muitos escaladores atuais nem sabem o que é, mas nós utilizamos dezenas de vezes durante anos, desenvolvendo até técnicas para não perdermos mosquetões na hora de desfazermos o aparato). Wandersom e Gustavo foram apenas para caminhada, mas eu, Japão e Junior aproveitamos para fazer pelo menos 2 rappeis cada um. Já satisfeitos com as descidas e depois de algumas subidas nesta montanha finalmente nos viramos para a pedra menor e resolvemos que faríamos um rappel de seu cume também. Para acessarmos este cume antes precisamos repetir uma via da década de 50 conquista do escalador Hermano Fontão, trata-se de uma via com 3 ou 4 grampos em artificial, uma travessia e outro artificial para se chegar ao cume da pedra. Após vencermos este lance eu retornei junto ao Junior para mandarmos a corda para Japão montar o rappel. Por algum motivo antes de jogar a corda para Japão eu conversei com Junior e o avisei que deixaria a corda fixada onde estava e não jogaria a ponta para a outra pedra, lembro que houve alguma hesitação, mas a ideia foi aceita. Jogamos a corda para a outra pedra distante uns 25 metros, o que não era problema, pois, com a corda de 50 metros teríamos corda exata para montarmos o rappel na pedra menor, vale lembrar que ambas as descidas são negativas. Japão ancorou a corda num antigo grampo fixado no cume da pedra, eu realizei a primeira descida e fiquei aguardando o próximo, mas para minha surpresa, Japão e Junior decidiram rappelarem juntos, até aí tudo bem, afinal não seria o primeiro rappel que faríamos assim, me virei e desci mais alguns metros pela trilha quando de repente vejo um vulto voando logo atrás de mim, sem saber o que tinha acontecido vejo os dois pendurados na corda já indo em encontro com a rocha onde fazíamos o rappel da pedra maior, alguns segundos se passaram após eles se chocarem com a rocha até que eles fizeram um sinal de tudo bem e terminaram a descida completamente assustados sem saber exatamente o que havia acontecido. Após uma segunda avaliação e tirando o grande susto constatamos que estavam bem e fomos ao cume da pedra saber o que realmente havia acontecido. O antigo grampo não aguentou o peso e se soltou. Neste momento nos entre olhamos e pensamos o que aconteceria se a corda tivesse sido tirada do outro ponto de fixação, sem saber e sem ter noção no momento em que resolvemos não desancorar a corda do primeiro rappel, evitamos um sério e grave acidente, pois, a queda de ambos seria de pelo menos 20 metros de altura. Passado o susto, ficou apenas a lembrança e o aprendizado.


Esq.: Wandersom "Guga", Paulo Braga Junior, Leandro Gama "Japão"
(ambos segurando o antigo grampo que se soltou) e André Rodrigues.


Como lembrança levamos a foto acima e o grampo que atualmente não sei por onde anda. Na foto acima e abaixo é ainda possível ver os poucos equipamentos que tínhamos na época, todos estes na foto pertenciam ao Centro Excursionista Friburguense quando de sua reativação em 1989.





Após o susto arrumamos nossos poucos equipamentos e nos
preparamos para a descida ainda "adrenados".


25 de novembro de 1990. Sebastião virou “Bruxo”. Menos de dois meses após termos passado por esse grande susto no Pico das Duas Pedras, marcamos outra excursão a este cume, desta vez além de mim, estavam presente Leandro Gama “Japão” que nesta época era o cara mais entusiasta do esporte na cidade, praticava o esporte com verdadeira prazer e emoção o que muito me incentivou e me levou a realizar muitas das escaladas e caminhadas que fiz neste período. Ainda completavam nosso grupo o jovem André Ghizi de Mello e Sebastião Santos Penna, ambos haviam ingressado no Centro Excursionista Friburguense havia pouco tempo. No dia anterior a nossa subida a pedra havia chovido um pouco o que claro sabíamos que dificultaria a subida, mas nem por isso desanimamos e como sempre nos encontramos e partimos para a caminhada. Logo notamos que a pedra tinha algumas manchas de água escorrida, mas seguimos pelo caminho que sempre fazíamos apenas nos desviando das manchas de rocha molhada. Depois de 1 hora de caminhada eu no auge de meus 16 anos de idade era o responsável pela caminhada e conversei com Japão e decidimos que começaríamos a usar as cordas deste ponto em diante, pois, estava perigoso devido aos vários veios de água escorrendo pela pedra e tendo em vista que Ghizi e Sebastião tinham pouca experiência precisávamos garantir a segurança dos dois. Tínhamos duas cordas e faríamos duas cordadas. Chegamos a um veio de água com mais ou menos 2 metros de largura, Japão foi o primeiro a transpor o veio e parou numa moita ao lado e começou a tirar uma das cordas da mochila, logo depois Ghizi parou a seu lado. Eu passei pelo veio sem problemas também e comecei a retirar a outra corda da mochila, Sebastião que vinha poucos metros atrás e usava uma das botas clássicas da época uma “Regazone” pisou no lugar errado e escorregou, escorregou, escorregou e não parava mais, no platô acima nós 3 nos olhávamos e não sabíamos o que fazer, ouvíamos Sebastião dando gemidos e gritos de desespero e não tínhamos o que fazer, depois de mais de 30 segundos de queda vemos uma grande moita cerca de 70 metros abaixo da gente se mexendo e logo depois Sebastião ficando em pé, me lembro que neste momento Japão deu um grito (Uhuuu) e perguntou se tinha sido legal que era para sair da frente que ele também queria descer, neste momento Sebastião levanta seus braços e não vemos mais sua blusa branca e sim todo um braço vermelho, escorria sangue de todos os lugares de suas costas, pernas e braços. Rapidamente entendemos a gravidade da situação e usamos as cordas para descermos até o local onde ele estava. Avaliamos a situação e começamos a descida sempre utilizando as cordas de apoio o próprio Sebastião precisava descer montanha abaixo, não tínhamos equipamentos, hoje, imagino a dor que ele deva ter sentido nessas duas horas que levamos de volta até o ponto de ônibus. Para os rappeis nas rampas iniciais usávamos a técnica Comicci, fico imaginando agora o sofrimento dele tendo que usar está técnica em seu corpo todo machucado. Por sorte ele estava de calça jeans o que com certeza o protegeu bastante. A cada parada para um novo rappel Sebastião soltava as duas frases: “Gato escaldado tem medo de água fria” e “desculpa gente, estraguei o domingo de vocês”. Tirando toda a seriedade da situação sempre ríamos dele nesses momentos e o acalmávamos dizendo que isso não importava. O que queríamos era leva-lo o mais rápido para o Pronto Socorro. Lembrem-se que nesta época os telefones celulares ainda não existiam então tínhamos que dar nosso jeito. E demos, pegamos o primeiro ônibus em direção ao centro da cidade, Sebastião estava em pé e pingava sangue de seus braços, algumas senhoras passaram mal dentro do ônibus com tal situação. Chegamos ao pronto socorro onde prontamente ele foi atendido. Enquanto ele era atendido ligamos para a família de Sebastião e avisamos do ocorrido, esperamos que eles chegassem ao hospital, ouvimos algumas indagações, demos explicações e terminamos nosso domingo com um alívio por nada mais grave ter acontecido.


Tempos depois e já recuperado Sebastião me contou que ao chegar na sala de curativos a enfermeira primeiro olhou e pediu a ele para tirar a camisa, depois de avaliar melhor ela disse para tirar toda a roupa, pois, precisaria fazer curativos em todo seu corpo. Ele me disse que foi bem dolorido e que precisou passar 15 dias praticamente deitado se recuperando do acidente. Para nossa alegria, após recuperado Sebastião retornou ao CEF e juntos fizemos grandes escaladas, mas agora não era mais o Sebastião que nos acompanhava e sim o BRUXO, apelido que ganhou após ter sobrevivido a esta queda de 70 metros. Em 03 de março de 1991, Bruxo fazia sua primeira escalada junto a mim, no Pico do Charuto e na Pedra do Cão Sentado e menos de um ano depois do acidente e quase como um presente de “segundo aniversário”, eu, Bruxo e Japão escalávamos pela primeira vez o Dedo de Deus.


15 de novembro de 1991, Sebastião "Bruxo" e André
Rodrigues durante escalada ao Dedo de Deus.

domingo, 2 de junho de 2013

A Cara da Morte - 2


O DIA EM QUE VI A CARA DA MORTE
(PELA SEGUNDA VEZ)

 

Na escalada já me deparei com muitos momentos de perigo, muitos momentos em que me expus ao risco além do limite permitido, mas com certeza um dos momentos que ainda me tiram o sono foi durante uma escalada a Via Visões Diferentes junto com um de meus grandes companheiros de escalada, Joel Novo. Novamente com Joel Novo o mesmo que em outubro de 1993 passei por outra situação similar.

 

Um pouco sobre a via onde ocorreu o incidente. Está via havia sido conquistada no dia 09 de abril de 1995 pelo próprio Joel e por Dinei Costa e contou ainda com a participação de Leandro Gama “Japão”.  A via fica no Pico do Edifício de Pedra, um dos gigantescos blocos de pedra existentes no Parque, bloco este que fica ao lado da Pedra do Cão Sentado e sempre havia passado desapercebido por grande parte dos escaladores, mas com a conquista desta via isso mudou um pouco. A via só contava com uma repetição até o momento e foi 2 dias após a conquista, repetição feita por mim e Leonardo Amorim da Silva. Nesta repetição trocamos a urna e o livro que haviam sido deixados provisoriamente pelos conquistadores.  Joel e Dinei foram os primeiros a escalarem o Pico do Edifício de Pedra (assim batizado pelo antigo administrador do parque, Altir Forny Xavier), que contava ainda com uma outra via iniciada por Japão e Márvio Klein de Oliveira e uma segunda via iniciada por mim que nunca levei adiante.

 

André Rodrigues no cume do Edifício
de Pedra, após a 1ª repetição da via,
dias antes do grave incidente
 


O dia do incidente.  No dia 18 de junho de 1995 pouco mais de 2 meses após a conquista da via e há praticamente 18 anos atrás eu e Joel partimos rumo ao Parque de Furnas do Catete para repetirmos está via novamente, queríamos que ela fosse frequentada e como as opções de escaladas na época ainda eram escassas em Nova Friburgo, uma nova via era muito bem vinda e queríamos repeti-la e divulga-la o máximo possível. Outro incentivador para repetirmos a é que Joel precisava retirar um friend que ficou agarrado na laca após a P1 e como tínhamos poucos equipamentos nesta época estava fazendo falta para outras escaladas. Depois de uma caminha de cerca de 25 minutos até a escondida base da via, nos equipamos e Joel começou a guiar a via, com lances em livres e o primeiro grampo alto a via requer uma atenção extra até que se faça a primeira costura, depois as proteções estão bem colocadas. Após os lances em livre vem um artificial fixo e um pequeno platô, onde Joel parou para me recolher. O grande problema deste platô de parada é que o grampo fixado nele era de 3/8”, ou seja, um grampo que naquela época já deveria ser intermediário estava em uma parada totalmente aérea há mais de 25 metros de altura de um piso cheio de bicos de pedras. Bem já não era a primeira vez que eu parava neste grampo e até este momento não me passou nada de errado quanto a isto. Acabei de passar todo o equipamento que havia recolhido para Joel e ele como queria guiar toda a via, não fiz questão deixei que ele completasse a via guiando a segunda enfiada. Antes de se soltar do grampo e fazer o lance lembro-me claramente dele falando: “ Este grampo de ½” está solto, preciso vir aqui para rebate-lo”. Sem problemas sabíamos que o grampos estava solto era só não forcarmos o grampo para fora da rocha, como trata-se de um lance em artificial onde se coloca um friend para se sair escalando em livre pensamos que não havia problema, pois, um metro acima do friend já havia outro grampo e o lance não é dos mais difíceis. Mas para minha surpresa e não entendo ainda, Joel fez pressão para fora na hora de subir no estribo para alcançar o friend que já estava na e voou... Instantaneamente olhei para o grampo de 3/8” que agora se tornara o único elo que me prendia, que prendia os quase 90kg de Joel em queda Fator 2 e nos separava de todos aqueles blocos de pedra que estavam 25 metros abaixo de nós. Para meu espanto e desespero vi o exato momento em que o grampo se entortou e encostou na rocha, quando olho para baixo Joel está rindo e dando saltos na pedra, eu desesperadamente grito com ele pelo menos umas 3 vezes mandando que ele se costure no grampo próximo a ele, acho que depois do segundo grito ele entendeu a gravidade da situação e se ancorou no grampo mais próximo e a meu pedido no de baixo também. Sinceramente precisei de alguns segundos para recuperar o fôlego e conseguir relaxar o suficiente para explicar a ele o que havia acontecido realmente. Depois disso: Rappelamos. E não pensem que após este acontecido paramos de escalar, ao contrário, após rappelarmos  a via e fomos repetir a Via Tradicional do Cão Sentado, ou seja, naquele momento preferimos não entendermos pelo que havíamos passado e preferimos continuar escalando como se nada houvesse acontecido.

 

Hoje 18 depois não é a primeira vez que me pego pensando neste acontecimento que eu encaro como uma das vezes que mais de perto vi a cara da morte e algumas conclusões precisam ser expostas:

 

1. Felizmente a escalada em rocha tem evoluído e hoje é praticamente regra que toda parada fixa seja com 2 grampos, principalmente se está parada for exposta ou o próximo grampo for separado por um lance muito longo ou difícil.

2. Felizmente o grampo de 3/8” estava muito bem batido e felizmente a solda do olhal também suportou o peso.


3. No dia 06 de agosto de 1995, Joel e Dinei retornaram a via e fixaram um novo grampo de ½” no platô, além de fixarem o grampo que havia soltado da rocha.

4. Hoje 18 anos após o fato ainda me pego pensando na gravidade deste incidente e que caso aquele grampo de 3/8” estivesse mal batido, tenho quase 100% de certeza que eu não estaria aqui escrevendo está matéria no dia de hoje. Tenho usado este incidente para melhorar sempre minha percepção de risco em todas as escaladas e por muitas vezes me peguei me intrometendo em cordadas de escaladores que eu nem conhecia direito, provavelmente alguns deles me agradeceram, outros podem ter ficado chateados pela intromissão, porém, tenho a certeza que sempre que necessário estarei me intrometendo, pois, nem sempre as pessoas conseguem perceberem certos detalhes que podem fazer toda a diferença entre a vida e a morte.

A Cara da Morte - 1


O DIA EM QUE VI A CARA DA MORTE
 
(PELA PRIMEIRA VEZ)

 

Dias antes. No dia 24 de outubro de 1993 escalamos a Face Leste do Pico Maior, foram duas cordadas uma formada por mim e Dário do Nascimento (foto: Dário e André no cume do Pico Maior) e a outra por Joel Novo e Leonardo Amorim da Silva. (Nem sabíamos neste dia, mas nos tornaríamos 4 dos nomes mais importantes da escalada friburguense nos anos seguintes com diversas conquistas e viagens a Alta Montanha.) Cito esta escalada, pois, tudo começou neste dia ao chegarmos ao cume do Pico Maior, após comemorarmos o fato de Dário chegar pela primeira vez a este cume, Joel resolveu retirar uma corda que estava fixa na parte final da via (ainda em conquista) Filhos da Terra, essa retirada foi feita a pedido de Leandro Gama “Japão” um dos conquistadores da via. A corda havia passado mais de um ano pendurada na montanha com uma marreta de 1 kg em sua ponta, ou seja, além de toda a ação do sol ela ainda estava sofrendo lentamente com a ação da marreta esticando-a. Retirada e guardada a corda, rappelamos o Pico Maior e retornamos para Nova Friburgo.

 

Phobus e a corda rangendo. Dia 27 de outubro de 1993, ou seja 3 dias após retirarmos a corda do Pico Maior a pedido de Joel, resolvemos testar a corda, mas resolvemos testar a corda logo na via Phobus, uma linda fenda que na época havia sido conquista com dezenas de grampos, mas que ainda sim era uma escalada aérea e totalmente exposta, seu livro de cume estava há mais de 100 metros em desnível da base e sua parede totalmente em 90º. Nesta época tínhamos cordas dinâmicas há pouco mais de 6 meses, então para nós utilizarmos uma corda “bacalhau” e que havia passado mais de ano numa montanha não parecia ser problema algum. Então após nos encordarmos e Joel guiar a primeira enfiada até a saída do teto eu comecei a perceber algo de estranho na corda, ela estava dura. Ignorei assim como Joel este fato e continuamos a escalada normalmente. Joel armou a segurança e me recolheu até a entrada do teto onde armei a segurança para ele continuar a escalada (foto: André fazendo a segurança para Joel). Neste momento começamos a comentar o estado da corda e o barulho que ela fazia ao passar no Oito (equipamento de segurança utilizado na época), já não sabíamos o que fazer, depois de alguma conversa e de estarmos quase na metade da escalada resolvemos continuarmos até o final, pois, a chance de uma queda eram mínimas dada a grande quantidade de grampos da via. Era um artificial e chegamos ao livro de cume sem problemas. Neste momento já pensávamos seriamente no que estávamos fazendo e quais poderiam ser as consequências deste ato, porém, não havia mais volta, precisávamos encarar o rappel de quase 100 metros numa parede de 90º com uma corda que no mínimo estava muito ruim. Não tínhamos nenhuma outra corda e precisaríamos fazer 5 rappeis até a base da via. Claro, não preciso falar que cada metro que descíamos era um frio no estomago, pavor, e uma certa taquicardia, pois, o barulho da corda passando pelos equipamentos era assustador. Felizmente depois de muita tensão e adrenalina chegamos sãos e salvos na base da via, a corda, claro foi para o lixo.
 
 
  Enquanto assinava o livro de cume, pensava seriamente nos
próximos 5 rappeis que precisávamos encarar.

Apesar de não ter acontecido nenhum incidente, para mim hoje, quando penso nesta situação não consigo pensar em outra coisa a não ser em um incidente que poderia ter ocasionado um acidente fatal, pois, de qualquer ponto que sofrêssemos uma queda decorrente do rompimento da corda, esta queda seria fatal, não haveria segunda chance para quem estivesse rappelando. Para quem ficasse preso a rocha restaria o desespero de estar preso a um grampo e só restariam 2 alternativas: esperar por um resgate que em 1993 poderia demorar dias, pois, quase não haviam escaladores e seria preciso que alguém ouvisse os gritos desta via que não é próxima da trilha principal, afinal os telefones celulares ainda não existiam, ou ainda tentar descer grampo a grampo com algumas fitas, mas, mesmo com todos os grampos da via, isso provavelmente não seria possível.
 

O fato é que felizmente eu e Joel tivemos muita sorte neste dia.